Outra Arma Anti-Capitalista: Anti-Hedonismo Radical (Uma Introdução)

Como humanos, nós somos ao mesmo tempo abençoados e amaldiçoados com o ciclo sem fim de perseguição sem sentido por objetos comercializados como soluções práticas para problemas muito mais profundos, esses problemas sendo os criados pela mesma máquina que nos vende a solução; O Capitalismo.



Hedonismo é uma filosofia que afirma que a busca por prazer e prevenção do sofrimento são as únicas formas possíveis de alcançar felicidade e conforto. Essa forma de vida paradoxalmente envenena o objetivo final, já que prazer não pode ser alcançado perseguindo prazer.

Um homem comum chega em casa, cansado do trabalho. Ele vai na cozinha, pega uma cerveja, e assiste pornografia. Essa pequena quantidade de prazer ajuda no seu próximo dia de trabalho, e no outro depois disso. A única razão pela qual o homem comum pode beber sua cerveja, que ele vê como uma gratificação, é por causa do seu trabalho. O mesmo pode ser dito do aparelho que ele usou para assistir pornografia. E da internet que fez a conexão funcionar. Prazer máximo ou prazer absoluto não são possíveis. Hedonistas se contêm com pequenas porções de prazer, ou formas de vida não sustentáveis, onde um dia os recursos para conquistar os objetos de prazer serão demais para serem gastos.

Um poderia argumentar que os extra ricos são ‘imunes’ a isso, de alguma forma. Mas eventualmente, o ciclo hedonista tem que acabar, se a família de pessoas ricas continuamente praticasse essa forma autodestrutiva e não sustentável de vida, iria eventualmente chegar à uma geração onde todo o dinheiro teria sido gasto, deixando nada e assim encerrando o ciclo.

Mas e se nós conquistássemos nosso objetivo final? Muito é discutido sobre como conquistar sonhos. Como ficar rico, como falar com companheiros em potencial, como achar amor verdadeiro, como ser promovido, como conseguir aquele emprego novo. O mesmo não pode ser dito sobre o que acontece quando nós alcançamos nosso objetivo final. Cerca de 1876, o filósofo pessimista Mainländer começou a ponderar se sua vida valia a pena ser vivida. Ele tinha acabado de escrever seu magnum opus e sentiu como se ele não tivesse mais nada para prover à humanidade. Se ele agiu certo ou não é fora do escopo desse artigo. Pouco após a publicação do seu livro, Mainländer se enforcou.

Para existencialistas, a racionalização do ‘significado da vida’ não deveria ser um objeto. Por mais que nós fantasiemos sobre nossos objetivos, nós precisamos que esses objetivos sejam sonhos. Ou, ao menos, precisaríamos de novos sonhos. Por que pessoas saem da cama? Porque elas tem algo para fazer. E se elas não tivessem algo para fazer? Capitalismo habilmente nunca irá parar de criar novas imagens para sonhos serem concebidos. A nova promoção, o novo trabalho, o novo jogo, o novo. Essas são nossas rodas de rato. Nós precisamos continuar correndo, continuar nos movendo. Paradoxalmente, de novo, o objeto de desejo nunca é o que o hedonista quer. Ele pode sonhar sobre aquela mansão ou aquela mulher, mas alcançar o seu objetivo significaria perder o significado da sua vida. Em tal estado, um novo objetivo deverá ser obtido. O que procria ganância, e cada vez mais distrai o sujeito da sua falta de contato com sua realidade. Ou falha miseravelmente, deixando a pessoa com nada para se segurar, exceto o vasto vazio de sua existência sem significado.

Percebendo o moedor de carne sistêmico que controla suas escolhas usando de seu próprio julgamento, – “o que é melhor parar mim?” – um pode ponderar. O que fazer sobre isso? Se buscar por algo que parece incontestavelmente a decisão certa já fora contaminado pelo sistema, o que você pode fazer? Anti-hedonismo radical é a renúncia do modelo padronizado de vida atual. Não é sobre remover tudo o que pode ser visto como prazeroso da sua vida mas conscientemente fazer decisões para enfraquecer o profundo controle mental que práticas hedonistas tem no ser humano. Não é sobre interpassividade, o ponto não é ironicamente praticar ações infrutíferas, para tentar se sentir melhor sobre fazer o que o sujeito mesmo julga como moralmente errado. Como Mark Fisher escreve em seu livro, Realismo Capitalista: “[…] nós podemos fetichizar dinheiro nas nossas ações apenas porquê nós já tomamos uma distância irônica para o dinheiro em nossas cabeças”. O objetivo do anti-hedonismo radical não é fazer alguém se sentir melhor por suas más decisões, mas de uma forma, ser uma possibilidade antes não considerada de julgar para com o capitalismo. Se o capitalismo não está indo embora, isso nos deixa com a necessidade de proteger a única coisa que pode ser protegida disso: nossas mentes.